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Pai não é só quem está, é quem deixa um lugar

  • Foto do escritor: Ligia Estanqueiros
    Ligia Estanqueiros
  • 10 de ago.
  • 2 min de leitura

Há presenças que se medem não pelo corpo, mas pelo espaço que deixam para que possamos existir.

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Na psicanálise, pai não é apenas figura de carne e osso: é função. É o gesto simbólico que marca um limite, separa mãe e filho, e aponta para um mundo além do colo, um mundo onde cada um terá que inventar seu próprio lugar.

Essa função pode estar no pai biológico, mas também no avô que acreditou, no professor que abriu portas, no tio que cuidou, ou até em alguém que, num instante decisivo, sustentou a coragem de dizer: “vai, o caminho também é seu”.

Quando o pai não está ou está, mas não se faz presente, abre-se um vazio que não é só ausência: é um silêncio que se infiltra nos gestos, um espaço onde cabem perguntas sem resposta. Às vezes, ele se veste de uma busca incansável por reconhecimento; outras, de um medo que aperta sempre que o outro se afasta. É um buraco que aprendemos a contornar, mas que, de algum modo, continua dizendo que algo não pôde ser encontrado.

A presença paterna, quando exercida como função, não se mede apenas pelos abraços ou pela rotina partilhada. Ela está também no limite que protege, no “não” que estrutura, no silêncio que confia, e até na distância que nos convida a caminhar sozinhos.

Neste Dia dos Pais, talvez valha menos celebrar a presença idealizada e mais reconhecer a marca de quem, de alguma forma, nos separou para que pudéssemos ser. Porque pai não é só quem está: é quem deixa um lugar e confia que, nesse espaço, possamos arriscar a viver, com a falta que nos constitui e o desejo que nos move.

 
 
 

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