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  • Foto do escritorLigia Estanqueiros

Sua majestade o bebê

Há muitas décadas, famílias numerosas vêm sendo progressivamente substituídas por famílias cada vez menores. De cinco, seis filhos, os casais passaram a ter quatro ou três. Vinte anos depois, ainda eram poucos os que paravam no primeiro. Em contraste, a união familiar composta apenas por pai, mãe e um descendente, passou a ser frequente nos dias de hoje.


Esta opção pelo filho único é consequência do aumento da escolaridade da mulher, a entrada no mercado de trabalho, possibilidade de uma gravidez tardia, altos custos financeiros relativos à criação e à educação de uma criança, e disponibilidade afetiva. Atualmente, é comum que os pais trabalhem em mais de um emprego, com o objetivo de proporcionar uma condição de vida favorável para os familiares, resultando em um tempo de dedicação à família. A opção por ter apenas um abre a possibilidade de dar mais atenção a este descendente, mas mesmo que a atenção não seja dividida, continua precisando ser de qualidade.




Há uma preocupação exacerbada pelos pais, de como educarem o filho único, para que este tenha um desenvolvimento saudável e não se torne mimado, sem limites e solitário. Percebe-se que a decisão por um único filho promove criticas, questionamentos e cobranças para o casal pela sua escolha.


Os pais ao oferecerem tudo para a criança dificultam a possibilidade de conquista e crescimento deste, promovendo a dependência e dificultando que o filho aprenda a lidar com frustração. Para proporcionar ao filho um crescimento saudável, os pais devem estar atentos e impor limites quando necessário.


Os pais criam expectativas e desejos em relação ao filho, passando a criança a ter a função de reparar o fracasso dos pais, realizando os sonhos perdidos destes. A criança é marcada, não apenas pela maneira como é esperada antes do seu nascimento, como também, pelo o que ela vai em seguida representar para cada um dos pais em função da história de cada um.


Os pais revivem e reproduzem suas próprias expectativas na atitude com os filhos. Assim atribuem todas as perfeições ao filho e ocultam e esquecem todas as deficiências dele. A criança será o centro da criação. O filho representa o investimento dos pais, assumindo um lugar de ideal.


A criança concretizará os sonhos que os pais jamais realizaram. Desta forma o menino se tornará um grande homem e um herói em lugar do pai, e a menina se casará com um príncipe como compensação para a sua mãe.


Na atualidade, observa-se crianças com baixa tolerância a frustração, individualistas e egoístas. Os progenitores revelam dificuldade em frustrar ou decepcionar estas crianças, para não frustrar a si mesmos. As crianças passam cada vez mais a serem idealizadas e idolatradas, promovendo o aumento de pequenos tiranos e reis.


A geração dos mais jovens, daqueles que se tornaram adultos a pouco tempo, é preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.


Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito, na qual muitos pais se sentem angustiados para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os empasses da vida, sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade. É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal.


Os jovens sentem-se magoados ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido, sofrem terrivelmente, pois possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que

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