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Sua majestade o bebĂȘ

  • Foto do escritor: Ligia Estanqueiros
    Ligia Estanqueiros
  • 20 de mai. de 2021
  • 3 min de leitura

HĂĄ muitas dĂ©cadas, famĂ­lias numerosas vĂȘm sendo progressivamente substituĂ­das por famĂ­lias cada vez menores. De cinco, seis filhos, os casais passaram a ter quatro ou trĂȘs. Vinte anos depois, ainda eram poucos os que paravam no primeiro. Em contraste, a uniĂŁo familiar composta apenas por pai, mĂŁe e um descendente, passou a ser frequente nos dias de hoje.


Esta opção pelo filho Ășnico Ă© consequĂȘncia do aumento da escolaridade da mulher, a entrada no mercado de trabalho, possibilidade de uma gravidez tardia, altos custos financeiros relativos Ă  criação e Ă  educação de uma criança, e disponibilidade afetiva. Atualmente, Ă© comum que os pais trabalhem em mais de um emprego, com o objetivo de proporcionar uma condição de vida favorĂĄvel para os familiares, resultando em um tempo de dedicação Ă  famĂ­lia. A opção por ter apenas um abre a possibilidade de dar mais atenção a este descendente, mas mesmo que a atenção nĂŁo seja dividida, continua precisando ser de qualidade.



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HĂĄ uma preocupação exacerbada pelos pais, de como educarem o filho Ășnico, para que este tenha um desenvolvimento saudĂĄvel e nĂŁo se torne mimado, sem limites e solitĂĄrio. Percebe-se que a decisĂŁo por um Ășnico filho promove criticas, questionamentos e cobranças para o casal pela sua escolha.


Os pais ao oferecerem tudo para a criança dificultam a possibilidade de conquista e crescimento deste, promovendo a dependĂȘncia e dificultando que o filho aprenda a lidar com frustração. Para proporcionar ao filho um crescimento saudĂĄvel, os pais devem estar atentos e impor limites quando necessĂĄrio.


Os pais criam expectativas e desejos em relação ao filho, passando a criança a ter a função de reparar o fracasso dos pais, realizando os sonhos perdidos destes. A criança é marcada, não apenas pela maneira como é esperada antes do seu nascimento, como também, pelo o que ela vai em seguida representar para cada um dos pais em função da história de cada um.


Os pais revivem e reproduzem suas prĂłprias expectativas na atitude com os filhos. Assim atribuem todas as perfeiçÔes ao filho e ocultam e esquecem todas as deficiĂȘncias dele. A criança serĂĄ o centro da criação. O filho representa o investimento dos pais, assumindo um lugar de ideal.


A criança concretizarå os sonhos que os pais jamais realizaram. Desta forma o menino se tornarå um grande homem e um herói em lugar do pai, e a menina se casarå com um príncipe como compensação para a sua mãe.


Na atualidade, observa-se crianças com baixa tolerùncia a frustração, individualistas e egoístas. Os progenitores revelam dificuldade em frustrar ou decepcionar estas crianças, para não frustrar a si mesmos. As crianças passam cada vez mais a serem idealizadas e idolatradas, promovendo o aumento de pequenos tiranos e reis.


A geração dos mais jovens, daqueles que se tornaram adultos a pouco tempo, é preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustraçÔes. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimÎnio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.


Nossa Ă©poca tem sido marcada pela ilusĂŁo de que a felicidade Ă© uma espĂ©cie de direito, na qual muitos pais se sentem angustiados para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegĂȘ-los de todos os empasses da vida, sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade. É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais jĂĄ se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos Ă© sinĂŽnimo de fracasso pessoal.


Os jovens sentem-se magoados ao descobrir que a vida nĂŁo Ă© como os pais tinham lhes prometido, sofrem terrivelmente, pois possuem muitas habilidades e ferramentas, mas nĂŁo tĂȘm o menor preparo para lidar com a dor e as decepçÔes. Nem imaginam que viver Ă© tambĂ©m ter de aceitar limitaçÔes e que ninguĂ©m, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que

 
 
 

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